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A chegada conjunta de Hyundai HB20 e Toyota Etios ao mercado reflete uma estratégia traçada há quatro ou cinco anos pelas marcas. Acelerar a dupla produzida no interior paulista permite imaginar o que se passou pela cabeça dos coreanos e japoneses nos idos de 2008. E foram ideais totalmente diferentes.
Cabeça coreana
Já naqueles tempos, a Hyundai começava a se estabelecer como marca de ótima relação custo-prestígio. Explico: a marca começou por baixo, oferecendo produtos de qualidade e desenho discutíveis nos anos 80 e 90, mas com preços muito acessíveis. O esforço deles, desde a virada do século, foi melhorar esses dois aspectos, sem aumentar os preços na mesma proporção. A estratégia foi bem sucedida mundialmente.

No Brasil, a Hyundai conseguiu ocupar um vácuo deixado pelo Golf e o Audi A3 dos anos 1990. Carros de desejo, mas com preços ao alcance de uma boa parcela do público. O aspiracional possível. O que tem o HB20 a ver com isso? O modelo feito em Piracicaba manteve a coerência com o restante da gama Hyundai. Os coreanos estudaram a fundo os líderes de mercado (Gol e Palio). Buscaram oferecer um produto similar em termos de porte e confiabilidade mecânica, mas com um certo DNA de prestígio, representado pelo desenho arrojado e pelo acabamento acima da média da categoria.


Cabeça Japonesa

A Toyota não olhou para si mesma, mas observou o mercado à sua volta. Percebeu que modelos como a dupla Logan/Sandero, da Renault, começavam a fazer sucesso no Brasil, oferecendo uma ótima relação custo-espaço. Design e refinamento interno, neste caso, ficavam em segundo plano. Em vez de buscar um produto com o DNA do Corolla, de tanto sucesso por aqui, a Toyota preferiu apostar num modelo voltado para mercados emergentes asiáticos, como a Índia. Daí a opção pelo Etios.

O modelo produzido em Sorocaba replica a lógica da dupla Logan/Sandero, seguida, diga-se, por outros modelos, como Cobalt, Versa e Grand Siena, além de alguns hatches mais espaçosos. Traz a boa e confiável mecânica Toyota, mas com uma roupagem que não “conversa” muito com o restante da linha.
Quem acertou

No primeiro mês cheio de vendas, o HB20 emplacou 8 mil unidades, quatro vezes mais que a soma de Etios hatch e sedã. Há filas de até quatro meses para algumas versões do Hyundai, enquanto o modelo da Toyota pode ser encontrado para pronta entrega na maioria das versões. Não sei se é só fogo de palha, mas parece evidente que a estratégia dos coreanos está mais adequada ao mercado brasileiro.

A meu ver, os coreanos enxergaram algumas curvas à frente dos japoneses. A Hyundai apostou em uma massa de consumidores mais exigentes e com mais desejo de expressar sua ascensão social, sua elegância, sua jovialidade. A Toyota apostou na racionalidade, o que até faz sentido. Mas fez uma aposta que outros já vêm fazendo há pelo menos cinco anos, desde que o Logan foi lançado por aqui, com seu DNA mais romeno do que francês.
A diferença é que o Etios briga com uma legião de carros que oferecem boa relação custo-espaço. Já a Hyundai está (por enquanto) sozinha na estratégia de oferecer um carro com preço acessível, mas com inegáveis diferenciais de estilo e status. E assim deve surfar até que outros aprendam a receita.
Efeitos colaterais

Além de fazer uma aposta menos ousada, a Toyota pode sofrer prejuízos para o seu valor de marca. A aura de prestígio imaginada pelos fãs de Corolla, SW4, RAV4 e Camry tende a ser afetada pela chegada do espartano Etios. Isso sem falar que a rede Toyota, conhecida pelo bom atendimento, poderá ter dificuldade em manter o padrão de serviços ao ingressar na seara dos carros “populares”. A Honda, por exemplo, sondou produzir aqui o despojado Brio, mas abortou os planos, temendo esse efeito.

Isso pode acontecer com a Hyundai? Sim, mas em menor extensão. Em primeiro lugar, porque o HB20 tem visual coerente com os modelos mais caros. Em segundo, é vendido numa rede diferente da que comercializa os modelos importados. Isso pode até confundir os clientes num primeiro momento, mas ajuda a manter separadas duas segmentações de mercado (e estratégias comerciais) tão distintas.
Pitacos ao volante

Para que esse post não fique apenas no campo da estratégia, digo que gostei muito de acelerar as duas novidades. O Toyota é gostoso de dirigir, seja com motor 1.3 ou 1.5. Entrega mais do que sugere seu visual acanhado, e com isso causa boa surpresa. Mas incomoda pela simplicidade de soluções como o quadro de instrumentos no centro (e não atrás do volante), entre outras economias do projeto. O HB20 me agradou muito na versão 1.6, nem tanto na 1.0. O três-cilindros é inteligente e econômico, mas o próprio conceito do Hyundai, com seu visual arrojado, pede um motor mais esperto e menos ruidoso.

A bordo do HB20 1.6 encontrei quase tudo o que queria num carro dessa faixa de preço. Se fosse consultado pelos técnicos coreanos na época do desenvolvimento, só sugeriria três mudanças: 1 – ajuste do encosto do banco por peça giratória (a alavanca é um tanto imprecisa); 2 – fivela do cinto de segurança menor (ela bate no cotovelo direito em algumas manobras); 3 – manopla de câmbio mais estreita (ela é gordinha demais, não favorece os engates rápidos). Nesse ponto, a alavanca do HB20 1.0 tem melhor empunhadura, apesar do aspecto mais frágil e do visual mais simplório.

Opinião do dono: a análise de quem já está com o HB20 na garagem


Se aproxima o fim do Quarentena. Mas ainda tem muita coisa bacana por vir: post sobre os ruídos do modelo, detalhes do acabamento, HB sob o olhar de uma dona de Etios… O carro que está aqui na redação já chegou aos 5.356 km rodas. Seu consumo com gasolina tem ficado na casa dos 9 km/l com gasolina – passa dos 10 km/l quando não encara trânsito. Mas hoje vamos abrir espaço para quem anda com o hatch todos os dias. Reunimos as impressões de quatro donos de HB20, com prós e contras, detalhes sobre a compra e notas para os principais itens que devem ser avaliados em um veículo. Hoje vocês ficam com a primeira, do 1.6. Ainda apresentaremos a de um HB20 1.0 igual ao do Quarentena. Fiquem de olho! Comprou um 1.0 e quer participar? Deixe seu contato nos comentários!
Rodrigo Thiers, de Recife
Qual a versão do HB20? Por que você a escolheu?
HB20 Comfort Plus 1.6 cinza titanium. Vim de um Gol Power 1.6 2006 e já estava acostumado com o motor mais forte, sem “paciência” para um 1.0. Apesar disso, fiquei tentado ao conhecer a boa fama do 1.0 do HB20.
Por que optou pelo HB20? Considerou outros modelos?
Considerei sim, como falei, vim de um Gol e pensei em partir pra nova versão lançada a poucos meses, mas venho seguindo notícias de flagras e informações vazadas pela imprensa sobre o HB20, principalmente aqui no site da Autoesporte e o carrinho foi me conquistando, quando soube das possíveis propostas de preço do HB20, resolvi aguardar o lançamento dele em Outubro. Também considerei o Palio que ao meu ver, era bem mais vantajoso que o Gol, eu estava até bem decidido a comprar um Palio e nem pensava mais no Gol, porque ele era mais caro e menos completo do que o Palio poderia ser pagando menos, fiquei entre Palio e HB20, mas quando conheci o pequeno coreano na loja, foi paixão a primeira vista. Hoje iria considerar o Onix que parece bem interessante, mas ai já estava com a compra fechada pro HB20, embora creio que ainda iria escolher o pequeno Hyundai, por gostar muito da marca e por ter sido conquistado pelo lindo design do carrinho.
Ele tem acessórios e/ou opcionais?
O único opcional, por enquanto, é o Pack Áudio original do HB20. Penso futuramente em instalar outros acessórios, como faróis de neblina e sensores de estacionamentos com câmera de ré, que me foram oferecidos na loja.
Quando você comprou? Quanto tempo demorou para receber?
Fechei negócio no dia 10 de outubro. Preferi investir na nova rede do que tentar a sorte na CAOA, por isso procurei a Pateo Hyundai.
A estimativa de entrega era para 20 de dezembro. Mas no dia 24 de outubro me ligaram para oferecer um modelo “sem dono”, por conta de um desistência. A única diferença em relação ao que eu havia encomendado era o som. Eu havia pedido um sem o original, com receio de não poder instalar o subwoofer que possuía no Gol. Mas para evitar a espera, aceitei. Depois dessa data, ainda tive de esperar uma semana e meia pelo carro, por causa da documentação.
Como foi o atendimento?
Foi bom, nada excepcional. A loja estava sempre cheia. Mas o processo de compra foi tranquilo. Porém a entrega, vendida como uma ocasião especial, foi feita de maneira tradicional e sem maiores alardes.
Quanto pagou?
Exatos R$ 40.045. Deixei R$ 2 mil de entrada e tive de pagar o restante quando o HB20 chegou. Teve o adicional do pack áudio e da pintura. “Ganhei” o jogo de tapetes. Mas, mesmo com muito choro, tive que pagar pelo protetor de cárter – vital para andar nas ruas de Recife. Achei um absurdo pagar R$ 40 mil em um carro e me negarem um mísero protetor de cárter de R$ 100.
Quantos km já rodou?
Relativamente pouco, 412 km.
Abastece com etanol ou gasolina? Qual a média de consumo?
Somente com gasolina, etanol não tem qualquer vantagem em Recife. Costumo medir, sim, pois não confio no que diz o computador de bordo. Na primeira vez que fiz a medição, o computador apontava média de 7,6 km/l. Mas nas minhas contas (km rodados/ litros no abastecimento) deu 6,6 km/l. Considero um bom consumo – melhor do que o que eu conseguia com o Gol ,- especialmente considerando que mais de 90% do tempo eu rodo no trânsito da hora do rush.
O carro já apresentou algum tipo de problema? Qual? Foi resolvido?
Por enquanto, esta em perfeito estado.
Pontos positivos:
- Força do motor;
- Silêncio a bordo: não há qualquer barulho ou vibração e quando estaciono sempre acho que ele está desligado ou morreu;
- Painel bonito e fácil de operar desde o primeiro uso;
- Câmbio de engates precisos;
- Bom porta-malas;
- Posicionamento do encaixe do cinto de segurança dos bancos de trás;
- Quantidade de porta-objetos;
- Som original de boa qualidade e com comandos no volante;
- Gerenciamento do iPod através do aparelho de som original
- Design;
- Retrovisores grandes;
- Sistema que impede que o carro seja ligado, sem pisar no pedal da embreagem;
- Suspensão firme e confortável, que não faz a carroceria rolar em curvas, nem inclinar ou perder a aderência de alguma das rodas.
Pontos Negativos:
- O motor 1.6 poderia ser mais econômico e mais potente abaixo de 2.000 rpm;
- Acelerador eletrônico apresenta certo delay quando pressionado com mais vigor;
- Retomadas também desapontam para o “1.6 mais potente da categoria”, como a montadora diz;
- Comando para a abertura dos vidros fica muito para trás na porta e a função one touch para fechar faz falta – fora que os vidros não sobem quando o alarme é acionado;
- Alarme é somente perimétrico e não volumétrico – o volumétrico só está disponível na versão Premium;
- Ausência de ABS, que não é nem mesmo opcional, nas versões 1.0 Comfort e Comfort Plus;
- Suspensão ruidosa em ruas com paralelepípedos e outras imperfeições;
- Saídas de ar-condicionado pouco práticas, que não direcionam o ar corretamente;
- Dificuldade para ver o nível do líquido de arrefecimento.
Veja o restante da matéria em: http://colunas.revistaautoesporte.globo.com/quarentena/
Fonte: AutoEsporte