Foto: Vilma Lúcia - Pricila Rodrigues tira da dor, a doçura para criar os filhos dela e da irmã 


A irmã de Andreia Rodrigues morta em 2007 e que teve como principal acusado o marido,  Sargento Andrei Thies, concede entrevista exclusiva ao Ponto de Pauta e faz revelações surpreendentes sobre o relacionamento do casal.

Veja a matéria na íntegra:

Pricila Rodrigues de Rodrigues chegou a Natal no início da tarde deste domingo (18), com grandes expectativas e senso de justiça. A tragédia que envolveu sua família há quase cinco anos lhe deixou marcas profundas. Para ela, a famílias Thies ao invés de proteger sua irmã, mataram-na.

Ela revela que a irmã tinha problemas no relacionamento com a família do marido e que certa vez chegou a dizer que queria ir embora, mas não tinha como viajar, por falta de dinheiro. Ele escondeu os documentos dela e da filha de ambos. E insiste na participação dos familiares do assassino na tragédia dizendo que sem ajuda, ele não poderia ter feito nada do que fez com sua irmã. “A mãe dele confessa que odiava a minha irmã”, disse.

Na entrevista, exclusiva, ao Ponto de Pauta, ela agradeceu o trabalho da Policia Civil, da Justiça e da Imprensa. “Eu nunca desacreditei na Justiça! Nós recebemos o apoio de toda a imprensa, de alguns repórteres, que fizeram de tudo para nos ajudar”, disse, comovida.

Priscila recebeu a jornalista Vilma Lúcia, do Ponto de Pauta, na casa de amigos onde está hospedada, e revelou que acredita firmemente na condenação dos culpados, no julgamento que começa nesta terça-feira. Ela veio acompanhada do marido e da filha mais nova de Andreia. Uma criança tímida, porém doce, e que sabe que a mãe está no céu, “mas não sabe como e porque foi para lá”, conforme afirmou Pricila.

Veja a entrevista:

Ponto de Pauta - Qual a sua expectativa com relação ao julgamento?

Pricila Rodrigues - Por todo o sofrimento que nós passamos, eu queria uma condenação máxima. Toda a punição que ele, o pai e a mãe pegarem, quanto maior, pra mim, vai ser melhor, porque eles tiraram a vida da minha irmã. Eu sempre confiei no trabalho da Polícia Civil, do Ministério Público a da Justiça daqui do Estado. Eu acredito que a promotora [Ana Márcia Morais] vá desenvolver um belo trabalho. Eu já li bastante a respeito do caso e confio no trabalho da acusação. Eu acredito que ela vai ter um ótimo desempenho, porque eu já tomei conhecimento de que ela é bastante séria e competente no assunto.

PP - A tragédia deixou marcas ruins no seu coração?

Pricila - Muitas! Muitas, porque eu tenho Andrielle, que é filha, tenho a Andrezza, que sofreu nesses quase, cinco anos que ela perdeu a mãe e teve que morar com o pai, que não fez um bom trabalho e eu tive que tirá-la do pai de maneira um pouco agressiva. Então, eu fiquei com muita mágoa, porque ele destruiu uma família. Ele destruiu o sonho de duas meninas, que hoje estão bem, mas poderiam estar melhor, se estivessem com a mãe. Então, eu tenho uma revolta muito grande a respeito disso. Ele destruiu a família dele e toda a nossa família. Não foi uma só.

PP - Nesses quatro anos e meio, que sentimento você guarda da família Thies?

Pricila - O pior possível! Eles são uns monstros! Eles têm que pagar pelo que fizeram, porque eles foram de uma crueldade, de uma brutalidade tão grande com uma pessoa sozinha. Ela estava em outro Estado, sozinha, sem ninguém e eles estavam amparados, porque eles eram uma família e ela estava “infiltrada” no meio daquela família como se fosse nada. E, ao invés de protegê-la, eles mataram e fez tudo o que fizeram.

PP -Como tem sido a sua vida e a da filha de Andreia nesses anos, do ponto de vista financeiro?

Pricila - Eu trabalho, meu marido trabalha, a Andrielle tem uma ajuda financeira e a gente vive relativamente bem. E eu acho que onde a gente tem amor e carinho, a parte financeira fica em segundo plano. Com amor e carinho a gente controi muito mais do que dando prioridade à parte financeira. Eles [os Thies] tinham tanto [dinheiro] e hoje não têm nada para oferecer a ninguém. Pausa...Eles eram uma família era tão bem estruturada financeiramente. E o que é que eles têm para oferecer aos outros agora? Nada!

PP - O que a filha mais velha, Andrezza, fala sobre a falta da mãe?

Pricila - Ela ainda sofre muito. Eu estou procurando ajuda psicológica gratuita para ela, porque eu não tenho condições de pagar uma consulta particular. Mas, a gente conversa muito. A gente é muito amiga, ela é muito amiga da minha filha, que são da mesma idade. São primas, já conviviam juntas. Mas, ela sofre muito, sente muito a falta da mãe. Eu achei desnecessário trazê-la para reviver tudo de novo. Hoje, eu acho que ela está um pouco melhor. Mas, ela sofreu muito e continua sofrendo ainda, porque a mãe dela foi a única pessoa que ela teve, porque não tinha a presença e o apoio do pai. Ai, de repente, ela veio para outro Estado, com a mãe, que era a única referência dela. Aí, tinha uma irmã e, por quatro anos ela ficou sem a irmã e ficou sem a mãe e agora está sem o pai. É muita perda para alguém da idade dela. Eu não tive muito estudo, para lidar com esse tipo de coisa, mas tento lidar com muito amor e carinho, que é o que eu sempre faço. Ela está estudando, está terminando o terceiro ano [do ensino médio], ela sai bastante, tem muitas amigas, ela se dá bem com a irmãzinha dela. Elas estão numa transição, porque agora ela está a sete meses morando comigo. Então, quer dizer, faz sete meses que ela está num laço de transição com a nossa família. Mas, no meu modo de ver, a Andrezza hoje, está bem melhor. 

PP - Andrielle chama você e o seu marido de mãe e pai? Você pretende contar a ela o que aconteceu?

Pricila - Um dia vou contar, sim. Vou contar, porque ela vai começar a associar as coisas. Vai querer saber por que a Andrezza me chama de tia e ela de mãe, se as duas são irmãs. Tudo isso ela vai saber. Ela sabe que a mãe está no céu, mas não sabe como nem porque ela foi pra lá. Eu estou esperando ela ter entendimento eu vou contar tudo isso que está acontecendo, com certeza, porque eu não quero desfazer a imagem da minha irmã, dela. A minha irmã, até certa idade era minha mãe. Porque eu a chamava de mãe. Pausa...E ela era uma pessoa super carinhosa, uma pessoa super prestativa. Então, eu não quero tirar essa imagem de mãe que Andrielle tinha.

PP - Você e Andreia eram muito ligadas afetivamente? Você lembra-se dela como?

Pricila - Até certa idade eu a chamava de mãe. Ela contou, certa vez, que quando eu tinha por volta de três anos de idade, um guri [como os gaúchos chamam os meninos] estava interessado nela e depois desinteressou, porque achava que ela tinha uma filha. Era porque, de tão ligadas que nós éramos, eu a chamava de mãe. E ela não se incomodava. Era ela quem me dava banho,  penteava os cabelos, levava para a escola, fazia tudo por mim. E quando o meu pai e minha mãe se separaram, nós todos nos separamos, só que eu e ela nunca perdemos o elo, nunca perdemos o laço. Sempre fomos muito unidas. Algumas pessoas daqui mesmo, por não ter conhecimento da nossa vida disseram que ela foi abandonada. Não! Ela tinha uma família. Só não morava conosco, mas tinha uma família. E eu e ela éramos muito unidas. E foi essa união que me trouxe a desconfiança de que ele [Andrei] tinha feito algo ruim com ela. Porque, ela foi assassinada um dia antes do meu aniversário. E no dia do meu aniversário, que é no dia 23 de agosto, ela não ligou. E ela poderia estar em qualquer lugar, que ela ligaria. E ela não ligou! Daí, eu comecei a desconfiar o que é que estava acontecendo com a minha irmã. Em abril vai fazer um ano que eu perdi a minha mãe e faz quase cinco anos que a gente perdeu a Andreia. A Andreia me faz muita falta! Pausa...Muita falta, porque era minha amiga, porque não tem como substituir. Ela era... a minha mãe, né? Então, eu sinto muito a falta dela e isso me dói muito.

PP - Andreia contava sobre problemas no relacionamento dela com Andrei?

Pricila - Sim. Uma vez ela chegou a dizer que queria ir embora e não tinha como ir, porque não tinha dinheiro, ele escondeu os documentos dela, escondeu os documentos da Andrielle. Ai, ela me pediu ajuda financeira para eu mandar o dinheiro pra cá que ela ia ter uma conta, que ela tinha brigado muito sério com ele. Disse que o Andrei tinha empurrado ela, tinha agredido-a e ela perguntou se podia morar comigo na minha casa. Eu disse: Com certeza! Ela sempre podia [morar com Priscila], ela sabia disso. E aí, em outra oportunidade, ela me falou que na casa tinha extensão telefônica e ficavam ouvindo a nossa conversa. Então, ela não podia conversar algumas coisas. Então, quando aconteceu isso [a agressão], eu comecei a procurar ajuda financeira para ela ir embora de novo. Dois dias depois, ela me ligou dizendo que estava tudo bem, que ela tinha se entendido com o Andrei. Só que, daí, já era mentira. Eu acho que isso já era forçado, porque ela tinha falado da escuta telefônica e certas coisas ela não poderia mais falar. Muita coisa eu já sabia, porque ela havia me contado e deduzi que o que ela não falava era porque eles estavam escutando.

PP - O que representa, para você, o dia 22 de agosto?

Pricila - É uma tristeza muito grande, porque é um dia antes do meu aniversário. Então, todo dia do meu aniversário, um dia antes, eu tenho uma tristeza para lembrar. Pausa... Eu sempre vou lembrar isso. Vai ser uma coisa que vou ter para o resto da minha vida. Eles conseguiram fazer um sofrimento muito grande, de tirar a vida da minha irmã um dia antes do meu aniversário.

PP - No meio dessa tragédia toda na sua vida, você encontrou vários amigos aqui. Isso ameniza algum sentimento ruim que você tenha de Natal?

Pricila - Com certeza! E eu queria agradecer muito, muito, toda a dedicação do delegado [Raimundo] Rolim. Toda a dedicação que ele teve. E eu acho que [o trabalho dele] não foi só como delegado, mas como ser humano. Ele saber da nossa história, saber que a gente vivia lá tão longe e ele empenhado aqui, sem dormir, sem comer direito, buscando uma resposta para dar pra gente. Ele foi uma pessoa formidável e eu, se viver cem anos, não vou ter como agradecer. Eu agradeço a ele, a todos da Polícia Civil, a justiça. Eu nunca desacreditei na justiça! Nós recebemos o apoio de toda a imprensa, de alguns repórteres, que fizeram de tudo para nos ajudar mesmo. E divulgaram bastante! É tanto que, nesses quatro anos e meio, ninguém esqueceu o caso aqui. Ninguém esqueceu o que aconteceu com a minha irmã.

Andreia tem uma comunidade na internet, com gente que quer me conhecer, que sabe da história por meio da imprensa, da justiça que vai ser feita pelo trabalho da polícia. Agora só falta o trabalho do Ministério Público [no julgamento] que eu acredito também que vai ser um bom trabalho. Porque eu não acredito que tanto empenho dê em nada, só porque o advogado de defesa acha que vai mudar o mundo. Ele [Andrei] e a família dele praticaram um crime muito grave, um crime de uma brutalidade muito grande. Então, eu acredito totalmente na justiça e quero ter a oportunidade de agradecer ao delegado Rolim, pessoalmente. Quero agradecer e, tenho certeza que vou poder dar um abraço bem forte na promotora, porque vai ser um trabalho vitorioso e a justiça vai ser feita. E isso, embora não traga a minha irmã de volta, vai amenizar um pouco a dor. Pausa...

Mas, eu tenho que agradecer especialmente a um anjo que mora aqui [em Natal]. Ninguém sabe a maneira como eu o conheci. Foi por meio de um telefonema de um amigo meu, para um amigo que ligou para outro amigo e me deram o telefone de Gustavo Mariano [assessor de imprensa da Degepol e que é padrinho de Andrielle]. E esse, eu vou guardar [põe a mão no peito] para o resto da minha vida. O que ele faz por mim, aqui... pausa...[suspira] eu não tenho nem como agradecer!

PP - O advogado de defesa deu algumas declarações na imprensa, dizendo que Andrei Thies se diz arrependido do que fez. Você acredita nesse arrependimento?

Pricila - Não! Não acredito! Ele teve a oportunidade de se arrepender quando aconteceu o crime, quando ela ainda estava agonizando, ele teve tempo de salvar a vida dela. Por que não salvou? Por que não tentou, se estava arrependido? Por que ele ainda foi asfixiá-la? Está aí, nos jornais, no processo, tudo o que aconteceu! Eu não acredito em nada do que vem desses monstros. Nada, nada! Eu acho que toda punição para eles vai ser pouca. Mas, eu quero que [o resultado do julgamento] seja justo também. Não quero que seja uma coisa injusta (diz, referindo-se ao fato do advogado querer inocentar os pais de Andrei). Eles cometeram um crime juntos, vão ter que pagar! Eles têm que pagar pelo que fizeram. Até quando as pessoas vão cometer crimes e não vão pagar? Tem que pagar! Eles acharam que iriam fazer uma coisa [um crime] em outro Estado e ninguém ia dar bolas, as pessoas iam se alienar e fingir que não aconteceu isso? A justiça daqui do Rio Grande do Norte existe e está aí. O julgamento vai acontecer no dia 20 e a condenação vai estar lá para a gente aplaudir, no final, a pena que eles vão pegar. Arrependimento, eu não acredito que tenha, nenhum!

PP - Você acredita que o pai e a mãe dele tiveram participação no crime?

Pricila - Com certeza! Sem ajuda, ele não poderia ter feito nada do que ele fez. A mãe dele confessa que odiava a minha irmã. Sozinho ele não fez nada! Eu quero agradecer a todos os repórteres que estiveram envolvidos na cobertura do caso e mostraram a verdade. Uns publicaram algumas inverdades, mas aos que publicaram as verdades, eu quero agradecer muito. E, de coração, eu quero dizer que, se não fosse o trabalho da imprensa em divulgar bastante, o caso já teria sido esquecido. Agradeço à Polícia Civil, no trabalho dos investigadores e peritos, ao delegado Rolim, por ter feito todo o trabalho minucioso de investigação e ao Ministério Público porque, tudo o que aconteceu, teve vários envolvimentos. A Polícia Civil, os repórteres e o Ministério Público, juntos, montaram um quebra-cabeça para estar no estágio que nós estamos que é o julgamento público.

Entenda o caso

Andréia Rosângela Rodrigues foi morta em 22 de agosto de 2007, na casa onde morava com o sargento da Aeronáutica Andrei Thies e as duas filhas no bairro Cidade Verde, Parnamirim. O delegado Raimundo Rolim, começou a investigar o caso como um sumiço, uma vez que a família Thies prestara queixa do desaparecimento da vítima. A descoberta da morte da dona de casa demorou cerca de uma semana, quando o delegado Raimundo Rolim viu que não se tratava de um simples desaparecimento por causa das diferentes versões apresentadas pela família. 

Até que no dia 29 de outubro, o corpo foi encontrado dentro de um saco de dormir, no quintal da casa onde moravam Amilton e Mariana Thies, no conjunto Ponta Negra. Os Thies foram presos e indiciados pelo crime no final de 2007. Em meados de 2008, os  pais de Andrei chegaram a ganhar a liberdade, mas retornaram à prisão naquele mesmo ano. Em fevereiro do ano passado, a juíza Daniela do Cosmo decidiu levar os acusados a júri popular. A decisão foi constestada pela defesa, junto ao Superior Tribunal Federal, mas foi mantida pela justiça.

O juri popular será formado por 20 pessoas, escolhidas entre os cidadãos de Parnamirim, com idade superior a 18 anos e que não respondem a processos na justiça. Dessas, apenas sete irão compor o corpo de jurados. 

A expectativa é que o julgamento dure mais de um dia devido à quantidade de testemunhas e de elementos dentro do processo. Também há grande expectativa da população, com relação ao resultado, uma vez que o caso teve grande repercussão na imprensa pela maneira cruel como os acusados mataram Andreia Rodrigues e tentaram ocultar o cadáver.   

Fonte: Ponto de Pauta