Wilson Galvão – Ascom/UFRN

Um equipamento que pode ser utilizado para ensaiar o desgaste em vários materiais para componentes de sistemas automotivos, com maior versatilidade e facilidade no uso, acaba de ser patenteado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Os adjetivos dados a ele são fruto da possibilidade da realização de ensaios com diferentes amostras, sob diferentes meios, seja seco ou molhado, podendo variar tempo, rotação, temperatura e carga, por exemplo.


Orientadora da pesquisa que resultou na invenção, Salete Martins Alves pontua que o dispositivo é um tribômetro. O nome peculiar remete a um equipamento que tem a função de realizar testes de desgaste de materiais, sobretudo aqueles que estão sendo desenvolvidos – uma nova peça que integre o sistema de freios de um automóvel, por exemplo. "Essa deterioração acontece em uma condição específica de uso. No caso do tribômetro desenvolvido, classificamos ele como um do tipo 'cilindro sobre disco', em que o cilindro atrita contra o disco, realizando então o seu desgaste", salienta a professora da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT).

A invenção recebeu o nome de "Dispositivo para ensaios tribológicos do tipo cilindro sobre disco em meio fluido ou seco" e foi depositada em dezembro de 2019. Leonardo Chagas da Silva, outro inventor envolvido, frisa que a aplicação deste tipo de dispositivo é direcionada a uma extensa gama de desenvolvimento de produtos. "Dentre estes, podemos nos concentrar mais especificamente em novos materiais, metálicos ou não metálicos, ou em novos revestimentos de superfícies de materiais. Há também a possibilidade de desenvolver lubrificantes líquidos ou sólidos e testá-los neste equipamento", coloca.

Leonardo ressalta que, durante todo o processo de desenvolvimento, as discussões sempre foram com o intuito de desenvolver algo que pudesse ser de fácil utilização e que gerasse bons resultados. "Foi um período de grande crescimento em termos de conhecimento sobre o assunto. Eu e a professora Salete pensamos em uma invenção que pudesse ser utilizada por qualquer pessoa que necessitasse desse tipo de ensaio", destaca.

Atualmente no Canadá, fazendo pós-doutorado, é da tese dele que a patente surgiu. "Nós desenvolvemos e confeccionamos um protótipo. O tribômetro foi pensado e criado para realizar os ensaios do meu doutorado, à época, devido à falta de equipamento para as condições preestabelecidas pelos ensaios e os mecanismos de desgaste para o qual eu vinha estudando", relata. Esse protótipo foi construído por ele mesmo, na oficina mecânica do IFRN, onde ele trabalha, envolvendo diversos processos de fabricação mecânica e de instalações elétricas.

Para além do protótipo, Salete Alves identifica que, no momento, o Grupo de Estudo de Tribologia e Integridade Estrutural (GET) analisa diferentes tipos de revestimentos com o objetivo de aumentar a resistência ao desgaste de componentes mecânicos. Nessa perspectiva, o equipamento patenteado pode ser usado para caracterizar os filmes. O GET tem como missão estudar a tribologia e a mecânica do contato. A tribologia é a ciência que estuda o atrito, o desgaste e a lubrificação entre superfícies em movimento relativo, tendo como característica ser uma área multidisciplinar que envolve física, química, mecânica e engenharia de materiais.

Proteção legal da invenção

Para receber uma carta-patente, significa que a pesquisa se submeteu a avaliações que, no fim, buscam averiguar se ela atende aos três critérios de patenteamento: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Ou seja, uma invenção deve ser nova, não podendo existir em nenhum outro lugar do mundo. Além disso, deve ser inventiva, ou seja, o processo de criação deve envolver engenhosidade e não ser óbvio para um técnico no assunto. Por fim, deve ser possível replicá-la em escala industrial.

Passada essa fase, os inventores adquirem o direito exclusivo de explorar comercialmente a invenção, podendo fabricá-la, usá-la, vendê-la ou importá-la. Contudo, isso não significa que, uma vez registrada a patente, essa proteção legal seja válida para sempre. Essa validade, atualmente, é de 20 anos ou de 15 anos contados a partir da data do depósito, a depender da modalidade: se patente de invenção ou caso de modelo de utilidade. De maneira simplificada, a primeira é o tipo de patente que protege a atividade inventiva, enquanto a segunda protege objetos de uso industrial.

Os pesquisadores destacam que, no horizonte de atuação de suas pesquisas, uma das importâncias da produção de patentes é ser um dos fatores de medição do Índice de Desenvolvimento Humano de um país. Para a dupla de inventores, o processo de patenteamento traz importantes considerações, como a proteção legal da inovação, valorização dos pesquisadores, fomento à pesquisa, desenvolvimento e impacto econômico, tudo isso indo além da proteção da propriedade intelectual propriamente.

Sugestão de legenda: Salete pontua que equipamento patenteado amplia possibilidades de ensaios de desgaste em materiais automotivos.