Em 2023, cerca de 75% dos cigarros vendidos no Rio Grande do Norte foram contrabandeados, conforme levantamento da Receita Federal com base em dados da indústria nacional de tabaco.
Wyllo Marques, delegado da Receita Federal, assegura que essas são "estimativas confiáveis, baseadas em pesquisas".
Na última quarta-feira (18), uma operação em Monte Alegre resultou na apreensão de 300 caixas de cigarros, avaliadas em mais de R$ 1 milhão. Um suspeito foi preso, outro ficou ferido, e um agente da Receita Federal e um policial civil também se feriram após um confronto armado.
Os cigarros contrabandeados vêm, principalmente, do Paraguai, segundo a Receita Federal. O Rio Grande do Norte está localizado em uma rota internacional desse comércio ilegal. Após sair do Paraguai, a carga segue por uma rota marítima pelo Pacífico, atravessa o Canal do Panamá e chega ao Suriname, antes de ser distribuída por diversos estados do Nordeste em embarcações menores, dificultando a fiscalização.
De acordo com Wyllo Marques, o estado potiguar é vulnerável a essa atividade devido à sua extensa costa e áreas de mangue, que facilitam o desembarque dessas embarcações. Em 2023, a Receita Federal registrou o consumo de 1,7 bilhão de cigarros contrabandeados no RN, resultando em uma perda de R$ 129 milhões em ICMS e movimentando R$ 437 milhões no comércio ilegal.
A tributação elevada do cigarro no Brasil, que chega a 70% do preço final, enquanto no Paraguai é de apenas 17%, torna o país vizinho um ponto estratégico para os contrabandistas. Grande parte dos cigarros contrabandeados é vendida nas periferias do estado, onde, segundo Marques, a falta de informação faz com que muitos consumidores desconheçam a origem ilegal dos produtos.
Operação em Monte Alegre: confronto e prisões
Uma operação da Receita Federal e da Polícia Civil na manhã de quarta-feira (18), em Monte Alegre, resultou em troca de tiros entre criminosos e policiais. Um agente da Receita e um policial civil foram baleados, além de um dos suspeitos. As vítimas não correm risco de vida.
A ação, conduzida pela Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), monitorava uma carga de cigarros ilegais transportada por caminhão. Ao interceptarem o veículo, os ocupantes de um carro que fazia a escolta da carga dispararam contra as viaturas, desencadeando o confronto. A operação resultou na apreensão de dois caminhões com mais de 300 caixas de cigarros e na prisão de um suspeito.
Ex-policial envolvido na escolta da carga
O ex-policial militar João Maria da Costa Peixoto, conhecido como João Grandão, é acusado de escoltar a carga de cigarros contrabandeados. Segundo o delegado Wyllo Marques, ele teria atirado contra os agentes durante a operação. João Grandão foi preso após procurar atendimento médico por um ferimento de bala no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.
O ex-policial já era foragido da Justiça, com acusações que incluem participação em um triplo homicídio em 2022 e envolvimento em um grupo de extermínio responsável por 26 execuções em 2005. A família de João Grandão afirma que ele foi baleado em um assalto enquanto ia à farmácia, versão que está sendo investigada.
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