Um sentimento de desolação e de poucas expectativas toma conta daqueles que foram desabrigados após o deslizamento de terra que destruiu parte da Rua Guanabara, em Mãe Luíza, ocorrido no último sábado (14). Desabrigados e tendo de morar temporariamente em casas de parentes ou lugares disponibilizados pela Prefeitura de Natal, essas pessoas lembram o desespero que foram os momentos em que tiveram de sair de seus lares por causa do risco de desabamento. A sensação, mesmo nesta terça-feira (17), ainda é de não se saber o que fazer daqui em diante.
A aposentada Cícera Lopes da Silva, 68 anos, está morando na casa da filha desde o desastre. Ela relata que estava em seu lar, na Rua Guanabara, quando os agentes da Defesa Civil chegaram para retirar os moradores daquela região, na noite do último sábado, por causa dos riscos de desabamento. “Eles bateram na porta e disseram que tínhamos de deixar a casa sem conversa. Só deu tempo de pegar os meus chinelos”.
Cícera Lopes lembra com angústia das cenas que vivenciou naquela noite. “Havia muita gente chorando e gritando, uma agonia indescritível. Vi as casas caindo, várias motos sendo arrastadas para dentro da cratera, os postes caindo ao chão. Para mim, era como se estivesse acontecendo o fim do mundo”.
Na manhã desta terça, ela era uma das muitas que foram à paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Mãe Luíza, para buscar donativos deixados pela população e fazer um cadastro de famílias desabrigadas pela Defesa Civil do Município. A aposentada não sabe o que esperar do futuro. “Depende das nossas autoridades. Quero ver se elas vão consertar esse estrago. Não sei se volto para casa ou se alugo outro lugar”. Ela sequer pode ainda voltar à sua residência para retirar seus pertences. “Ela está na área de risco, onde não é permitido que a alguém chegar”.
Alojada no Centro Pastoral Nossa Senhora da Conceição desde o desastre, a dona de casa Rosinalva da Silva, 39 anos, só conseguiu voltar ao seu lar, na Rua Guanabara, na manhã do domingo. “Só consegui tirar alguns documentos e medicações, tudo muito rápido. Minha casa está toda rachada e não estão me deixando entrar. Ainda tem muita coisa para eu retirar”.
Rosinalva da Silva conta que, na noite do sábado, ouviu muitos gritos que a despertaram para o que estava acontecendo. “O pessoal da Defesa Civil chegou aqui para nos retirar, mas, a princípio, eu não quis sair. Não estava entendendo o que ocorria. Tive de sair com meu pai idoso, em meio àquela chuva. Na rua, era muita gente gritando, casas desabando. Jamais pensei que isso aconteceria ali, tão perto. Via isso nos noticiários, no Sul do país, nunca esperava algo assim em Mãe Luíza”.
A dona de casa diz não saber o que fazer daqui em diante. “Minha casa pode desabar, mas gostaria de voltar para lá algum dia, se for possível”.
Morando no Centro Pastoral desde esta segunda (16), a doméstica Nataliana de Lima, 30 anos, teve de sair de casa às pressas com o filho de um mês de idade no último sábado. Sua casa fica a poucos metros de onde houve o deslizamento, entre as ruas Atalaia e Guanabara. “Sai dali quando o pessoal da Defesa Civil chegou pedindo que deixássemos nossa casa. A sensação era horrível com toda aquela gente gritando e o barulho das casa desabando”.
Ela passou o final de semana na casa de uma cunhada e até conseguiu retirar seus pertences da residência agora abandonada. Nataliana de Lima afirma que está sendo bem assistida pelas doações que chegam. A doméstica não quer mais voltar para a casa que deixou para trás nesse desastre. “Aconteceu algo parecido há alguns anos atrás, só que dessa vez foi pior. Não quero ter de passar por isso novamente”.
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