Na fronteira entre o mundo premium e o mercado básico, os compactos com motor 1.5 são a medida ideal para o uso urbano

Por Ulisses Cavalcante | Fotos Christian Castanho |

O início da produção do novo Fiesta em Camaçari, na Bahia, ampliou o terreno de um segmento bastante congestionado. No mundo dos compactos, dois degraus acima das categorias de base, há pelo menos dez opções de marcas diferentes. E isso se levarmos em conta apenas os hatches. Com a troca da importação do México pela fabricação local, o Ford salta de três para seis configurações, abrangendo um leque de 38 990 a 54 990 reais. Agora há um Fiesta no sapato de cada uma das versões dos Peugeot e dos Citroën. 
Nesse movimentado segmento, a novidade da vez é o Fiesta equipado com motor 1.5. Talvez seja mais próprio dizer que é a novidade do mês... 

Este comparativo reúne três rivais que almejam a garagem do mesmo cliente. Não por menos, contam com argumentos idênticos. Fiesta e C3 abriram mão de equipamentos, do motor 1.6 e da chancela "premium" para mirar em um público mais jovem (e menos abonado). 

O 208 fez o contrário. Ganhou recheio, ousadia e modernidade para recolocar a Peugeot na briga em que não tinha mais fôlego para lutar. A receita dos três inclui design provocante, acabamento esmerado, tecnologia, novos itens de conforto, como a direção com assistência elétrica, e conectividade com o celular. Os três representam uma nova geração de "carros básicos" para uma nova geração de clientes. 

1º Ford Fiesta 

Nem todas as reestilizações têm final tão feliz quanto a do Fiesta. O risco de desvirtuar a aparência do desenho original é alto. Não é o caso do Ford. Seu design magnético ganhou mais brilho com a grade dianteira à la Aston Martin. 

A nacionalização do compacto permitiu o aumento da gama de versões e agora estreia o motor 1.5. O novo trem de força desenvolve 111/107 cv, ante os 130/125 cv do 1.6, com etanol e gasolina. A menor potência poderia trazer redução no consumo, mas não foi o que aconteceu. Os testes apontaram números equivalentes aos do Fiesta 1.6 mexicano e piores que os do Fiesta 1.6 com câmbio Powershift. O automatizado fez 8,4 km/l na cidade e 12 km/l na estrada, enquanto o 1.5 marcou 7,8 e 11,2 km/l, nos mesmos ciclos, com etanol. 

O Ford é o que mais agrada ao volante. Seu câmbio é um dos responsáveis pelo sucesso do conjunto motor, cuja elasticidade reduz a quantidade de trocas de marcha no trânsito. A marca optou por incluir o Easy-Start também no motor 1.5. A tecnologia de aquecedores de combustível na admissão elimina a necessidade do tanquinho de gasolina, avanço que os rivais só oferecem na motorização maior. 

Medidas de contenção de custos são evidentes na versão S 1.5, refletidas na qualidade dos plásticos e na aspereza dos tecidos. O sistema de som My Connection é uma versão empobrecida do Sync. Embora tenha Bluetooth e entrada USB, herdou a dificuldade de uso da opção superior. 

A versão S vem com calotas. Rodas de liga e faróis de neblina exigem a migração para o SE por 3 500 reais. Mesmo com o incremento, continua custando outros 3 500 reais a menos que o 208 equivalente. Essa economia consolidou sua vitória. Como a ideia é manter um passo atrás do segmento "premium", preço tem peso maior na conta. 

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO 

A direção direta reforça a pegada esportiva, aliada ao ajuste impecável da suspensão. O destaque está nos freios. Foi muito melhor que os rivais nos testes de frenagem. 


MOTOR E CÂMBIO 


O motor Sigma levou a melhor na pista, sem pesar no consumo. E garante mais agilidade no trânsito. 


CARROCERIA 

Agradou desde o lançamento e melhorou com a dianteira à la Aston Martin, mas não é ousada como a do 208. 


VIDA A BORDO

As versões SE e Titanium tratam melhor seus ocupantes. A S deixa a desejar nos detalhes de acabamento. O som é ruim de usar e faltam alto-falantes atrás. 

SEGURANÇA

Tem ABS, airbags frontais e Isofix atrás, mas peca no básico. O banco central traseiro tem cintos abdominais. 

SEU BOLSO 
Custa menos que os rivais e o seguro oferecido pela Ford reduz o custo do prêmio. Rede maior também conta pontos extras. 

2º Peugeot 208 

Quem está acostumado ao 206 e 207 impressiona- se positivamente com o 208. Como os brasileiros não conheceram a geração 207 legítima, já que o nosso é uma mera reestilização do modelo lançado aqui em 1999, a evolução é muito nítida. Se não fosse o preço, o Peugeot teria levado a melhor. Ou, no mínimo, empatado com o Ford. A versão Allure 1.5 é 3 500 reais mais cara que o Fiesta SE 1.5, que tem preço sugerido de 42 490 reais. 

O teto de vidro na versão intermediária é um grande diferencial, tanto no charme como no preço. Apesar de ser bacana, não é prioritário para quem faz muita conta antes de bater o martelo. Poderia ser oferecido como opcional nesta configuração. Um tiro certeiro foi incluir o navegador de série. 

Uma das qualidades do 208 é resolver um dos grandes males inerentes ao 206 e 207: ergonomia. Nunca consegui encontrar uma posição adequada e confortável para guiar. Ou estava muito próximo do volante ou longe demais do acelerador. Agora tudo muda. A sensação é de vestir o carro, principalmente com o volante pequeno. O diâmetro foi reduzido para que o motorista pudesse ler o painel sobre o aro superior, mas o efeito mais notável é o toque de esportividade que o carro ganha. 

Outro mérito é a tela sensível ao toque no painel. Todo o sistema de som é comandado sem botões físicos. Além de aumentar a praticidade, o visor permite a visualização de maior quantidade de informações. É possível controlar som, GPS e Bluetooth. Os comandos no volante completam o pacote. 

Na pista, foi melhor que o 208 Griffe 1.6 nas retomadas, mas os números de consumo do motor 1.5 foram ligeiramente piores que os do 1.6 16V. O mais forte fez 8,3 e 11,9 km/l (cidade e estrada). 

É uma boa compra para solteiros ou jovens casais. Se você precisa de espaço, fique com o Citroën C3. 

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO 


Competente nos três itens, ficou meia estrela na frente do C3 por causa do volante menor. 


MOTOR E CÂMBIO 

O motor 1.5 mostra rendimento compatível com o carro. Com engates suaves, a transmissão agrada. 

CARROCERIA 


Faz jus ao legado do 206. Tem estilo original e impactante. É o que mais remete à esportividade. 

VIDA A BORDO 


Repete no interior a ousadia da carroceria. Mostra capricho no acabamento. Tem o melhor sistema de som. 


SEGURANÇA 


Vem com freios antiblocantes e airbags frontais. Oferece cinto de três pontos nas cinco posições, mas não tem encosto de cabeça no assento central. 






SEU BOLSO 

Tem três anos de garantia, serviços de assistência gratuita e pacotes de peças com preço pré-definido, mas o atendimento na rede ainda precisa melhorar. Obteve nota 16 no Car Group, do Cesvi. 


3º Citroën C3 

O C3 é o mais elegante da turma. E também o mais empenhado em tratar bem seus ocupantes. Isso é comprovado pela qualidade superior dos plásticos, uso de texturas agradáveis ao toque e esmero na escolha dos bancos. Os assentos são confortáveis, dão bom suporte ao corpo em curvas e utilizam tecido em dois tons com acabamento tridimensional - cujo desenho vai além da estampa e é formado por relevo. 

Mesmo a versão intermediária Tendance 1.5 vem de série com para-brisa panorâmico Zenith, que aumenta a área envidraçada na cabine. O equipamento divide opiniões aqui na QUATRO RODAS. Quem guiou o carro na estrada reclamou do excesso de sol no rosto no começo da manhã, situação em que o pequeno quebra-sol não é suficiente para conter os raios solares do horário. Outro efeito colateral é que as abas não têm espelhos e as luzes de cortesia estão posicionadas nas laterais do teto. 

O Citroën foi o melhor nos testes de consumo, mas ficou para trás no 0 a 100 km/h, apesar de mostrar- se ágil e agradável de guiar na cidade. De qualquer forma, esse critério tem menor peso no cômputo geral. Para famílias, é o que oferece mais espaço interno, e, entre as versões comparadas, o único com cinto de três pontos e encosto de cabeça para os cinco ocupantes. Ele arremata o apelo familiar pelo bagageiro, com capacidade para 300 litros. 

Se sua preocupação é custo de manutenção, o C3 obteve uma excelente nota na avaliação de reparabilidade do Cesvi, marcando 14 pontos em uma escala de 10 a 60 (quanto menor o número, melhor). 

Fiesta, 208 e C3 elevam o padrão de qualidade de uma categoria cada vez mais habituada a uma lista de equipamentos generosa. A terceira posição do C3 pode se inverter, dependendo das prioridades do cliente. Sem o Zenith, começa em 39 990 reais. 

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO 

Foi o pioneiro do segmento com a direção elétrica e continua agradando. Tem a suspensão mais macia dos três, mas nem por isso é instável. 


MOTOR E CÂMBIO 

Mesmo com a última posição nos testes de desempenho, garantem boas esticadas quando provocados. 

CARROCERIA 

Dos três, é o que mais guarda a proposta de "carro premium". Preserva esses traços mesmo na versão de entrada, a Origine. 


VIDA A BORDO 

Boa seleção de materiais, com plásticos agradáveis ao toque, bancos com textura 3D e ricamente equipado. 

SEGURANÇA 

O melhor para famílias, é o único do trio com cinto de três pontos e encosto de cabeça para o assento traseiro central. 

SEU BOLSO 

Tem preço compatível com a proposta e com os rivais, mas o C3 ideal é o Exclusive 1.6, a partir de 51 260 reais. Foi o melhor no teste de reparabilidade do Cesvi, marcando 14 pontos. 


VEREDICTO 

Belos, modernos e bem-equipados, 208 e C3 revelam ótimos atributos, mas são méritos compartilhados com o Fiesta. A potência adicional do Ford faz dele um carro mais ágil e melhor para dirigir, sem onerar o consumo. Cada um agrada a seu modo. Então, não tenha receio de levar qualquer um deles para casa. 

4 RODAS