Jader Marques, advogado do dono da boate Kiss
Jader Marques, advogado do dono da boate Kiss (VEJA)
Em uma decisão que surpreendeu a promotoria e as autoridades policiais, o advogado Jader Marques pediu a prorrogação da prisão do próprio cliente, Elissandro Spohr, um dos sócios da boate Kiss, local da tragédia que matou 239 pessoas em Santa Maria (RS), há quase um mês. O requerimento também pede a prorrogação do inquérito policial - nesta semana, encerra-se o prazo inicial estimado para as investigações.

Marques defende que sejam feitas acareações entre Kiko, como é conhecido o empresário, e outras partes envolvidas no processo, como membros do Corpo de Bombeiros, integrantes da banda Gurizada Fandangueira e o engenheiro responsável pelo isolamento acústico da casa noturna. "Um dos motivos apresentados pela polícia para a transferência do meu cliente à penitenciária de Santa Maria foi a possibilidade de acareações. A polícia, até o presente momento, também não ouviu o testemunho de Nathalia Doronche, namorada do Elissandro, que estava na Kiss no dia do incêndio. Este é um fator fundamental para discussão sobre a natureza da acusação", afirmou Marques, em coletiva nesta segunda-feira. 

Mas o pedido inédito do advogado não deve ser atendido. Em relação ao prazo do inquérito, o delegado responsável pelas investigações, Marcelo Arigony, disse ao site de VEJA que, até o dia 3 de março - data em que devem ser soltos Kiko e outros detidos -, ainda há tempo para ouvir mais depoimentos. "Até podemos ouvir essa moça (a namorada de Kiko), mas já ouvimos cerca de 400 pessoas, e todos os depoimentos corroboram as suspeitas de que tínhamos desde os primeiros dias de investigação. Se precisar, ouviremos mais e faremos eventuais acareações, mas tudo no seu tempo", afirmou, acrescentando: "Sobre o pedido de prorrogação da prisão, eu não vou nem comentar. Ele não tem amparo jurídico". Segundo o promotor Joel Dutra, apenas a polícia ou o Ministério Público poderiam solicitar a renovação da prisão temporária.

A defesa de Kiko acredita que a presença da namorada de Kiko na boate derrubaria a tese de dolo eventual (quando se assume o risco de matar) defendida pela promotoria. "Com os elementos apresentados pelo inquérito até agora, não há dúvida de que ele assumiu o risco de matar. Não é o fato de a mulher dele estar na boate, o que ainda precisa ser provado, que vai dizer o contrário. É uma série de condutas irregulares que ele veio praticando, que expuseram muitas pessoas a esse risco. Ele não se importou com a vida de ninguém, nem com a dele", declarou o promotor.

Marcela Donini
VEJA