O prefeito eleito Carlos Eduardo Alves
(PDT) vai herdar o município com pelo menos três áreas sob intervenção
judicial. Depois da Urbana, que acumula uma dívida milionária de mais de
R$ 50 milhões somente com fornecedores; e da Marca, empresa envolvida
no escândalo da Assepsia que gerenciava a UPA e as três AMEs na saúde, a
Justiça decretou intervenção na Ong Ativa. Segundo a acusação do
Ministério Público, mesmo sendo uma Organização não governamental, a
entidade atuava como braço da prefeitura e servia, entre outras coisas,
de cabide de emprego para fins políticos. Uma situação semelhante a do
Meios, Ong também extinta este ano ligada ao Governo do Estado.
A Ativa
acumula uma dívida de R$ 5,1 milhões e tem contra ela 721 ações
trabalhistas. Ainda segundo o MP, um terço do quadro funcional da
entidade é composto por funcionários fantasmas. A Ong era uma espécie de
curral eleitoral do Partido Verde. Várias nomeações com indicações de
parlamentares do PV foram constatadas. Numa delas, o deputado estadual
Gilson Moura e o ex-diretor do IPEM, Richardson Macedo, preso e
envolvido na operação Pecado Capital em 2011, convidam em janeiro de
2009 a esposa do ex-advogado da Ativa, Andréa Carla Ferreira da Silva
Bezerra, para a presidência de honra da Ativa. “Esse convite foi feito a
declarante no gabinete do diretor geral do Ipem-RN, onde se
encontravam presentes as pessoas de Rychardson Macedo e do deputado
Gilson Moura que após o convite a declarante juntamente com o Deputado
Gilson Moura foram até a Prefeitura e lá a declarante teve uma pequena
entrevista na chefia do gabinete civil da Prefeita; que passados alguns
dias foi editada uma portaria da Prefeita indicando a declarante para a
presidência da Ativa”, analisa.
“A Ativa serve para empregar diversas
pessoas indicadas por políticos e outras pessoas, onde buscando gerir a
entidade ou colocando uma pessoa contratada apenas para pagar
um favor ou para empregar um parente, contrata o indivíduo, onerando a
entidade”, afirma a petição assinada pelos promotores Rodrigo Câmara,
Hellen Maciel, Afonso de Ligório e Emanuel Dhayan de Almeida.
O pedido de intervenção foi feito pela
promotoria de Combate à Sonegação Fiscal e Tutela de Fundações e
Entidades de Interesse Social e aceito pela juíza da 17ª Vara Cível,
Divone Maria Pinheiro. O MP também pediu a extinção do órgão, o que
ainda não foi analisado pela magistrada. Hoje a Ativa possui apenas dois
convênios: com a secretaria municipal de Trabalho, Habitação e
Assistência Social (Semthas), do qual recebe R$ 1.250.000 milhão, e com a
Funcarte, cujo valor do repasse é de R$ 100 mil.
Além de intervir judicialmente no órgão,
a magistrada também determinou o afastamento de toda a diretoria da
Ativa e configurou como réus o presidente Bruno Anderson da Costa, o
superintendente, Robson Coelho Xavier, a superintendente administrativa,
Rozangela de Souza Godeiro e o superintendente financeiro, Carlos
Henrique Fujiwara de Medeiros. A interventora também já foi nomeada. A
administradora Joana Darc Medeiros Martins vai gerenciar o órgão por 180
dias. O prazo pode ser prorrogado pelo mesmo período caso haja
necessidade.
O salário da interventora foi estipulado
em R$ 8 mil. Joana Darc terá 30 dias para fazer uma auditoria nas
contas da Ativa. No relatório deve constar também a funcionalidade dos
programas que continuam sendo prestados à comunidade e quem, de fato,
trabalha nesses projetos. A administradora também precisa apresentar, no
mesmo prazo, um cronograma da execução do trabalho, além de entregar um
relatório mensal detalhado sobre a intervenção. “Entendo necessário
não apenas a expropriação do poder de administração da pessoa jurídica
mediante a nomeação de um administrador provisório, mas também que o
Ministério Público atue na fiscalização da entidade, com o intuito de
verificar irregularidades, bem como o cumprimento e a efetividade das
ordens judiciais”, diz a juíza na decisão.
Ainda segundo a magistrada, além da
preocupação com o número de ações trabalhistas contra a entidade, chama a
atenção a excessiva despesa com pessoal e as constatações de
irregularidades na concessão de diárias e horas extras. “Demonstram o
abandono e a omissão dos diretores da entidade na persecução de seus
fins assistenciais e no trato da res publica”, escreveu, antes de
classificar de caos a situação da Ativa. “Por tais razões, considerando o
excessivo número de funcionários, a extinção dos projetos de
assistência social, o uso político dos empregos, o desvirtuamento dos
fins da associação, assim como o déficit nas contas da associação no
montante de R$ 5.100.306,65, além das 721 reclamações trabalhistas
informadas pelo MP, o que demonstram o caos administrativo da entidade,
recomenda-se a imediata intervenção, sob pena de piorar ainda mais a
situação financeira e administrativa e de se continuar a gastar dinheiro
público para fins de interesse privado”, afirmou.
Ativa era o curral eleitoral do PV
A Justiça decretou intervenção num dos
principais currais eleitorais do Partido Verde em Natal. A Ong Ativa
teve a direção afastada e será gerida nos próximos seis meses por uma
administradora nomeada a pedido do Ministério Público. Um documento
enviado ao MP durante as investigações apontam indícios fortes de que os
cargos eram loteados entre os parlamentares eleitos pelo partido. Mais
de um terço do quadro funcional da Ativa é formado por funcionários
fantasmas. Aquino Neto, Paulo Vagner, Adenúbio, Kalazans, Ubaldo,
Dinarte e Rivaldo são nomes que aparecem autorizando a contratação de
funcionários.
No demonstrativo de admissões de outubro
de 2011, o nome do vereador Adenúbio Melo aparece autorizando a
contratação da própria mulher. Janderre Franco de Araújo foi admitida
como gerente de projetos especiais para trabalhar no setor de compras da
entidade com um salário de R$ 2,5 mil. O vereador Aquino Neto é outro
parlamentar que nomeia um parente. Célio Carvalho de Aquino foi admitido
no mesmo mês para ser gerente financeiro com um salário de R$ 2,5 mil.
“um documento remetido ao
Ministério Público onde se constata,
através de uma lista de funcionários da ATIVA, a indicação de pessoas
para trabalhar na entidade supostamente encaminhadas por políticos
potiguares, constando os nomes de Aquino Neto, Adenúbio Melo, Paulo
Wagner, dentre outros. Assim, não resta dúvida quanto à utilização da
ATIVA como, segundo o adágio popular, “cabide de emprego””, dizem os
promotores na petição.
Outro fato que chamou a atenção do MP
foi a ausência do nome de vários servidores na folha de pagamento do
órgão. Alguns foram contratados para projetos que nunca saíram do papel.
“Há uma série de pessoas contratadas, sem que existam as respectivas
folhas de ponto, ou quando existente, fica faltando assinatura referente
a alguns meses”, diz a petição.
Para o MP, a utilização da Ativa como
cabide de emprego ficou ainda mais clara quando constatou-se que vários
nomes de funcionários contratados eram de candidatos a vereador pelo PV.
Entre eles a já citada mulher do vereador Adenúbio Melo, que aparece
nas duas listas. As atrocidades realizadas na ATIVA continuam na
medida em que foi constatado numa análise da folha de pagamento e de
ponto, bem como no site do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do
Norte, a contratação de várias pessoas que foram candidatas ao cargo de
Vereador no Município de Natal e do interior do Estado. Ressalte-se que,
além da irregular troca de favor político, tratam-se de pessoas
filiadas e candidatas à Eleição de 2012, que já ocorreu, pelo PV
(Partido Verde), o mesmo da atual Prefeita desta Capital”, afirmam.
As investigações do Ministério Público
apontaram que, além de servir ao PV, vários personagens da operação
Pecado Capital, esquema de corrupção no IPEM durante o governo Wilma de
Faria, tinham acesso fácil a Ativa. O MP descobriu que a Ong fazia parte
da estratégia da quadrilha que agia no IPEM para lavar dinheiro. “O
chefe da organização criminosa em atuação no Ipem/RN, Rychardson de
Macedo Bernardo, designou estrategicamente pessoas de seu conhecimento
para viabilizar seu intento criminoso no âmbito da entidade”, dizem os
promotores.
Entre essas pessoas destacam-se Emanuela
Alves, noiva de Rychardson, que ocupou o cargo de superintendente da
entidade, Rhandson Macedo, irmão de Rychardson, funcionário da Ativa e
braço operacional do esquema, e José Bernardo, pai de Richardson e
Rhandson, que teria se beneficiado de dinheiro desviado da Ativa na
época em que foi desbaratada a operação Pecado Capital.
Fonte: NOVO Jornal
Mídias Sociais