Em 2007 um crime chocou o RN. Andréia Rosângela Rodrigues, dona de casa de 37 anos, foi brutalmente assassinada à facadas e teve seu cadáver ocultado por meses, tendo como principais suspeitos o próprio marido, o sargento Andrei Bratkowski Thies, integrante do 1º Esquadrão de Material Bélico da Base Aérea de Natal e os pais dele,  Amilton e Mariana Thies. 

Andréia foi morta em 22 de agosto daquele ano, na casa onde morava com Andrei Thies e as duas filhas no conjunto Cidade Verde, Parnamirim.

As informações iniciais do caso foram as de que os Thies se mostravam preocupados com o suposto desaparecimento de Andréia. No entanto, o delegado ligado ao caso à época do fato, Raimundo Rolim, desconfiou por causa das diferentes versões apresentadas pela própria família.

Pouco mais de dois meses após o crime, em 29 de outubro, o corpo foi encontrado dentro de um saco de dormir, no quintal da casa onde moravam Amilton e Mariana Thies. Uma das várias versões do caso davam conta de que ela foi imobilizada pelo sargento e a facada mortal foi aplicada pelo pai dele, Hamilton Thies. Depois de ser morta, o corpo foi mantido dentro da geladeira da casa onde Andréia e Andrei moravam e no dia seguinte levado para um freezer, de um depósito onde Hamilton trabalhava, porém, em outra versão só menciona a participação do Sargento Andrei na morte e os demais acusados teriam ajudado na ocultação do cadáver.

Psicólogo fala sobre o Caso

Psicólogo fala sobre Psicopatia. Foto: Lenilce
Em virtude do julgamento que acontecerá amanhã (20), nossa equipe conversou com o Psicólogo  Willen Moura* para falar e relembrar informações sobre esse caso.

Devido à natureza dos acontecimentos, perguntamos a Willen se o requintes de crueldade no assassinato de Andréia e na ocultação do cadáver era um caso de Psicopatia, haja visto que a imprensa, há época, fez essa associação.

O psicólogo nos relatou que não se poderia afirmar ou dar um diagnóstico sem realizar uma análise mais pontual acerca de um assunto tão delicado quanto é a Psicopatia somente com o que viu na mídia e ainda relatou que uma psicóloga estaria acompanhando o caso de Andrei e que logo depois do julgamento saberia de mais detalhes, porém, acredita que as características da família Thies, com informações acompanhadas pela mídia, leva a uma hipótese de que não só necessariamente o filho, Andrei, seria o Psicopata. Ele destaca que a Psicopatia é uma disfunção comportamental que não se encaixa exatamente num critério de doença devido ao fato de não ter cura.


No caso de Andrei, Willen nos conta que fica mais difícil essa caracterização, pois, segundo ele, um indivíduo pode matar alguém sob forte impulso emocional e não necessariamente ser um Psicopata, no entanto, relata que ao acompanhar na mídia as declarações observou alguns aspectos que corroboram com a idéia de Psicopatia.

O fato dele, Andrei, aparecer na mídia se mostrando algumas vezes vítima, justificando o caso sempre colocando a culpa na esposa é um ponto importante pois demonstra um processo na mente do Psicopata que se acha nunca ser o culpado de suas próprias atitudes. O Psicólogo lembra que leu no jornal, há época, uma nota do próprio Andrei dizendo que sua esposa era muito nervosa, brigava com a sogra, que era possessiva, entre outras coisas. Para Willen essas atitudes não justificam o assassinato e ainda destaca que a frieza como ele falou à imprensa sobre o desaparecimento da esposa, dizendo que não havia matado e que sentia saudades, sem expressividade, mesmo sabendo que já estava morta, é um indício de Psicopatia. Outro caso terrível foi lembrado pelo Psicólogo e que foi destaque no Jornal Tribuna do Norte, mencionava uma versão pela qual Andrei dizia que brigou com a mulher e, quando achou que ela já estivesse morta saiu de casa, ao voltar viu que ela ainda estava viva e que pedia água, agonizando no chão e que mesmo naquele estado ainda disse que o amava, porém, segundo a reportagem, ele a asfixiou com um travesseiro. 

Ser Humano: Objeto manipulável pelo Psicopata 

Psicólogo Willen Moura
O Psicólogo destaca que o psicopata trata o outro como um objeto, algo que é importante apenas para conquistar seus objetivos, por esse motivo há na mente do psicopata a ausência de amor e de empatia que é, segundo ele, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Esse fato é condicionante para que haja a manipulação das pessoas que convivem com o mesmo. “O processo de vitimologia dos psicopatas acaba por desencadear um sentimento de pena e compaixão nos outros suficientes para que haja manipulação”, “Aí é que a coisa fica complicada”. Muitos são levados por esses sentimentos e acabam caindo nas “garras” dos objetivos e das manipulações dos Psicopatas. Os psicopatas são considerados muitas vezes sociopatas, ou até antisociais, principalmente por causarem um prejuízo à sociedade e aos que cruzam o seu caminho, frisou.

Os pais de Andrei e a Psicopatia

O delegado que acompanhava o caso, há época, Raimundo Rolim falou à uma reportagem de Jornal que Andrei era um homem manipulado pelos pais e ainda destacando que ele não havia perdido o “cordão umbilical” mesmo depois de adulto. O Psicólogo lembra o fato curioso dos pais serem praticamente sustentados por Andrei e que, segundo a polícia, era o responsável por arcar com as despesas principalmente do pai e da mãe, fato esse que poderia ter motivado a família a não gostar de Andréia e, com o anúncio da possível separação deveria aumentar as despesas do sargento com pensão.

O psicólogo destacou que nesse caso muda um pouco o foco, pois o filho pode ter sido vítima “de um lar com pessoas de comportamento disfuncional”, ou seja, uma família com relações de poder capazes de gerar comportamentos ou pensamentos disfuncionais. “Focaram o pensamento só no Andrei, mas esqueceram que os pais podem ter manipulado o filho durante boa parte da vida” e “uma vez psicopata sempre psicopata”, destacou o Psicólogo dizendo que era apenas uma hipótese e que não se poderia exatamente afirmar o que aconteceu naquele dia tão terrível na vida de Andreia, nem descartar o filho e nem dizer, também, qual foi o real autor do crime. Ele fez questão de registrar que não estaria afirmando qualquer coisa sobre eles apenas analisando, de forma simplista e subjetiva, um caso que foi destaque nos principais jornais do estado e na mídia nacional. 


Psicopatia tem Cura?

Ao perguntarmos ao Psicólogo se existia cura para a Psicopatia ele foi categórico: “Não”. “Como falei não existe cura para esse transtorno”. Willen destacou que os psicopatas não entendem a emoção como as pessoas ditas “normais”, pois possuem uma espécie de desconexão desta emoção. Ele ainda conclui dizendo que os Psicopatas podem até fingir estarem tristes, ou fingir sofrer, mas não passa de uma forma para conquistarem os objetos de interesse e manipular.

O Psicólogo Willen Moura finaliza com um alerta, dizendo do risco de encontrar algum psicopata no meio de convívio, porém, segundo ele, a boa notícia, "mas nem tanto assim", é que eles se classificam entre leves, moderados e graves, sendo os dois primeiros menos propensos a serem homicidas. Ainda cita o livro de uma psiquiatra e Psicóloga, a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, que estuda a mente dos psicopatas e escreveu que pode existir cerca de 4% de psicopatas convivendo diariamente conosco, finalizou.


* Willen Moura é Psicólogo formado pela FARN (UNI-RN), Jornalista e desenvolve um trabalho social em Nova Parnamirim