Em entrevista ao Panorama Seridó (Rádio Caicó AM), o deputado federal João Maia (PR) confirmou que sua prioridade neste momento, é intensificar as discussões para a elaboração de um Plano de Governo, que será apresentado pelo Partido da República, nas eleições do próximo ano.

Serão dez meses de encontros, sobre os mais variados temas, como educação, segurança pública, saúde, geração de emprego, interiorização do desenvolvimento e outros. O primeiro deles aconteceu na semana passada, em Natal, onde o assunto principal foi a atual situação da saúde e suas necessidades.

Na entrevista, o deputado também falou sobre eleições 2010, e disse que só deve iniciar as discussões em torno de alianças, quando estiver com o projeto concluído. João Maia criticou os que anteciparam a discussão política e esqueceram de priorizar projetos e ideais pro Estado.

"Se a gente não mudar a forma de gerir, não tem muita importância quem vai ser o governador, o secretário. Vai ter importância pra um ou pra outro. Se você for amigo do secretário, você fura a fila. Se você for amigo do governador, você fura a fila. Mas pro povo, se não mudarmos a forma de gerir, não vai mudar muita coisa não".

Seguem trechos da entrevista:

Marcos Dantas - Qual a avaliação que você faz sobre o Seminário que o PR realizou para discutir a saúde do RN?

João Maia - Foi um evento muito importante. Primeiro, porque ele foi programado e planejado pelo PR, mas fizemos questão de levar a esse encontro, pessoas de todos os partidos. A saúde do RN é um problema imenso. Você sabe que mesmo a gente que tem condições de levar um filho pra um Pronto-Socorro Particular, quando alguém da nossa família adoece, isso é um desespero na vida da gente. Imagine quando você fica numa fila, esperando tempo pra ter uma consulta e internação. O encontro foi muito rico porque o que o PR quer, é conhecer a situação e oferecer um futuro diferente. Tivemos o ex-secretário de saúde de Natal, o ex-secretário de saúde do Estado e o ex-diretor do Hospital Walfredo Gurgel e também quem cuida da Psiquiatria, o principal responsável pelo Hospital João Machado. Tivemos um debate de 9 às 2 horas da tarde, muito esclarecedor. Mas o que é mais importante no projeto do PR é que nós ouvimos especialistas, nós vamos
levar esse debate pros bairros de Natal e para as principais cidades do Estado. Para que o povo, o que procura a saúde, o que é que ele tem a dizer sobre isso e qual o modelo da saúde que precisamos propor para o Rio Grande do Norte.

Deu pra fazer um Raio-X da Saúde do Estado, e o que lhe surpreendeu?

Deu pra ficar assustado. Poxa, você tem um acidente de moto em Jardim de Piranhas, por exemplo, aí você mete o paciente numa ambulância, sem nenhuma condição. Ele passa três, quatro ou cinco horas, batendo numa ambulância, ainda para enfrentar uma fila no Hospital Walfredo Gurgel. O ex-diretor do Walfredo mesmo disse que isso é um lugar que as pessoas vêm pra morrer. Assim como foi a discussão das pessoas que tem diabetes, dos que tem algum problema de alcoolismo, de droga. Eles vão no Hospital, recebem um atendimento imediato e depois ninguém cuida. Discutimos também como aperfeiçoar o Programa Saúde da Família, porque a dificuldade de se levar médico pro interior. Então foi uma discussão muito profunda, mas o que eu quero dizer é que precisamos aprofundar essa discussão com quem usa os serviços.

Se existem mecanismo para salvar a saúde porque até agora nenhum governante tem feito?

Eu acho que é uma questão de gestão. O funcionário público é funcionário do povo, ganha mal, é mal tratado, mas em compensação ele tem uma cultura de que "se eu fizer, eu recebo o meu salário no fim do mês, e se eu não fizer, eu recebo o mesmo salário". Eu ate discuti isso com o Governo. O Governo não mede nada. Qual é a meta para diminuir o número de mortalidade, de acidentes. Qual é a forma que você tem de envolver a sociedade nisso? Mas a gente não mede. O que existe é um espírito que tanto faz você fazer, como não fazer. A minha proposta é de fazermos uma administração com metas. Que metas queremos atingir na saúde, educação, segurança pública. E quem atingir a meta vai ser recompensado por ter atingido. Nós temos que tirar essa mentalidade de que estou no emprego público, e faço o que quero. Nada tem nada mais sagrado do que um emprego público. É isso que precisamos discutir. Emoção, valorização e
flexibilizar a gestão. Se a gente não mudar a forma de gerir, não tem muita importância quem vai ser o governador, o secretário. Vai ter importância pra um ou pra outro. Se você for amigo do secretário, você fura a fila. Se você for amigo do governador, você fura a fila. Mas pro povo, se não mudarmos a forma de gerir, não vai mudar muita coisa não.

Sobre os Hospitais Regionais, quais foram às discussões no Seminário do PR?

Nós temos que criar condições para que os Hospitais Regionais sejam referências. Tem que ter um anestesista ganhando bem, um clínico geral, um ginecologista, um neurocirurgião que faça operações de trauma, para que essa pessoa não venha batendo numa ambulância até Natal. A idéia que surgiu, e também não é nova, mas ninguém consegue fazer, é o seguinte: o cara se acidentou no Seridó, não precisa vir a Natal, a não ser que seja complicada, mas hoje se for médio-complicado, já vem pra Natal. Então você precisa fazer esses investimentos em Caicó, João Câmara, Currais Novos, Ceará-Mirim, Mossoró. Porque o que acontece hoje é que tudo deságua no Walfredo Gurgel. E, portanto você vai enfrentar uma fila que já é um dos símbolos da saúde publica do Rio Grande do Norte. Agora, se a gente tivesse uma equipe, bem remunerada, que tivesse condições de ficar nos hospitais regionais resolvendo as coisas básicas, inclusive a média
complexidade, na região mesmo, é o essencial. Precisamos de uma equipe de seis ou mais médicos e enfermeiros. A saúde hoje dispõe de tecnologia avançada. Não precisamos de prédios e sim de profissionais e equipamentos modernos. O médico, primeiro pra passar num vestibular é uma pedreira, segundo, ele passa cinco ou seis anos numa faculdade e ainda faz dois anos de residência. Não dá pra oferecer pra esse profissional 1.500 reais como o Governo oferece. Porque ele vai fazer medicina em vários lugares pra sustentar sua família, e o que investiu nele mesmo, durante toda vida.

O PR vai discutir outros assuntos do Estado, dentro da elaboração do Plano de Desenvolvimento pro Rio Grande do Norte?

Nós vamos fazer um Projeto de Governo. Eu não quero saber quem vai ser o candidato de quem. A aliança, vamos fazer em cima de um projeto. Nós vamos passar mais um mês discutindo a saúde. Depois vamos fazer um projeto pra Segurança, pra Educação, pra Geração de Emprego e Renda. Vamos discutir como interiorizar o desenvolvimento. Nós temos 10 temas durante 10 meses. Discutiremos com especialistas e principalmente com o povo. O PR vai elaborar um projeto de governo e depois vamos procurar os outros partidos e dizer: o que vocês acham desse projeto? Você tem alguma idéia do que pode melhorar? Porque a discussão sobre sucessão do Rio Grande do Norte está muita funalizada, quer dizer "eu voto em fulano, apoio sicrano". Estamos falando no futuro dos nossos filhos, dos nossos jovens. Como vamos fazer uma discussão dessas? Quem tem o que, pra apresentar pra quem? Eu não discuto aliança enquanto não concluirmos o projeto do PR pro Rio Grande
do Norte.

Essa discussão em torno das alianças deve começar quando, na sua opinião?

Ela pode começar todo tempo. Não é errado as pessoas discutirem isso. O que é errado é que ninguém discute sobre o que nós queremos fazer. É como se o povo do Estado não tivesse a menor importância. Importante são as lideranças e os partidos? O sujeito quer ser governador do RN pra fazer o que? Ele faz o que pela Segurança Pública? Pelos nossos jovens que estão se envolvendo com drogas, e destruindo as famílias? Você escutou alguma discussão sobre isso? O que o PR quer fazer é isso, e não quem é candidato de A, B ou C.

Esse discurso de que falta gestão acabou soando com critica à governadora Wilma de Faria. Isso representa rompimento entre vocês dois?

Não. Eu inclusive tive oportunidade de ser recebido pela governadora num jantar que ofereceu a mim e a minha esposa Fernanda. O que eu estou dizendo a você é o que eu digo pra ela. Minhas questões não são fechadas. Eu não tenho a cara de pau de dizer que a educação, que tem um secretário brilhante como Rui Pereira, está fantástica. Que a saúde está fantástica, que a segurança publica está fantástica, que a geração de emprego está fantástica. Eu não sei mentir. Nem tenho conveniência e nem convicção pra sair dizendo isso. Agora que também as criticas são absolutamente vazias. É muito fácil você dizer que não tem segurança. Mas você vai fazer o que? Temos que mudar o jeito de gerir o Estado, de gerir a educação, a segurança, a saúde, ele é fundamental, e não é um problema dessa administração. Wilma é uma pessoa com muito compromisso com o povo. Ela gosta do povo, trabalha pelo povo, mas se não mudarmos a forma
de gerir, não vai fazer muita diferença quem vai governar. Você vai me entrevistar daqui a oito anos, e vamos falar dos mesmos assuntos.

Qual seria, na sua opinião, a forma de manter João Maia, Robinson Faria e Iberê Ferreira no mesmo palanque em 2010, já que os três desejam disputar o Governo do Estado?

Querer ser governador é um instinto natural de um político. É uma ambição boa, se eu me considero capaz, quero gerir o Estado. Você tem que somar, tem que procurar as alianças necessárias. Mas eu estou convencido que você tem que ter um projeto. A candidatura a governador do Estado não é um campeonato quem vai mais a batizado, em enterro, em festa de aniversario, quem mais dá tapinhas nas costas. O RN está se prejudicando e estamos falando em futuro dos filhos, dos netos. Nós temos que começar a discutir qual é o projeto. Se não vamos ficar nessa historia de quem apóia quem.


Isso é uma critica a algum pré-candidato que ainda não iniciou seu projeto?

Não é critica não, é uma constatação. Não tem endereço especifico. A política do Rio Grande do Norte precisa urgentemente de um projeto para todos os setores. Porque se não nós vamos nos prejudicar. Vamos elaborar um projeto de verdade.

Mas uma desunião dentro do sistema da governadora Wilma seria o que menos ela desejaria pro seu projeto de disputar o Senado?

Eu não consigo discutir nestes termos. Eu juro. Porque sou da base de Wilma, sou um aliado de Lula. Se você olhar, 99,9% das vezes eu votei com Lula no Congresso, como deputado federal. A governadora Wilma tem procurado sempre ajudar, indicando pessoas qualificadas que possam contribuir pro Estado. O RN está naquele momento. Fomos escolhidos para sediar a Copa, temos o projeto do aeroporto de São Gonçalo. Estamos perdendo emprego, temos regiões que precisam de projetos específicos, como o que vamos fazer pelo Seridó, Médio e Alto Oeste, Trairi e Potengi, Agreste, Mato Grande, com a região salineira, Mossoró e outros. O que vamos fazer com o turismo do Estado, pela fruticultura que está sendo esvaziada, com a mineração. Eu mesmo gostaria de discutir isso. E não de discutir o que vai ajudar o candidato, a senador A, B ou C. Nós merecemos mais respeito.