O Rio Grande do Norte enfrenta atualmente o desabastecimento de soro fisiológico e contraste iodado, medicação utilizada em exames de imagem, como ressonâncias e tomografias computadorizadas para diagnósticos e tratamentos de doenças. O problema é nacional e já foi reconhecido pelo Ministério da Saúde.

Com o estoque zerado, a Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) comunicou a situação crítica ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Por enquanto, não há previsão para que os estoques sejam reabastecidos. Rede estadual de saúde não vem realizando os exames por conta da falta do contraste.

A diretora geral da APAMIM, Larizza Queiroz, responsável pela gestão do Hospital Maternidade Almeida Castro, desde 2014, e, mais recentemente, também do Hospital Regional da Polícia Militar em Mossoró, disse durante entrevista ao Jornal Mossoró Hoje nas Ondas do Rádio nesta sexta-feira (22), que a falta dos insumos é um problema mundial.

“Por muito tempo o Brasil preferiu importar seus insumos do que fortalecer a indústria nacional, e deixamos de produzir alguns itens básicos, como os insumos para os medicamentos mais comuns que existem como por exemplo o dipirona, que está faltando há oito meses no Brasil. A falta de insumos aconteceu durante a pandemia e foi acentuada nos último meses pela questão da guerra e o aumento do petróleo”, explicou.

Segundo Larizza, as cirurgias eletivas que ocorreram em Mossoró, inclusive zerando a fila de pacientes ginecológicas, com mais de 300 procedimentos realizados, foi um evento único, graças ao esforço da Apamim, Prefeitura de Mossoró e governo estadual, mas devido ao desabastecimento do soro fisiológico, as cirurgias serão paralisadas.

A falta do soro está relacionada a falta da embalagem, feita a base de Polietileno, que é derivado do petroleo, e que também esta em falta a nível mundial.

Em janeiro nós compravamos 500 ml de soro por R$ 3,00 essa semana não tem pra comprar e se encontrar, é por R$ 30,00, isso aumenta o custo, e quando encontramos, realizamos somente as urgencias e emergencias para a parturiente, no caso da maternidade, então vamos ter que parar com as cirurgias eletivas gerais, até o mercado recompor esses insumos”, ressalta a diretora.


A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Cosems), Maria Eliza Garcia, diz que a situação é grave. “No momento em que um paciente que faz tratamento de câncer e precisa de uma ressonância e ele não vai conseguir fazer, isso vai dar muito problema para ele. Um paciente que precisa de um cateterismo de urgência não vai poder realizar porque falta o contraste. São situações que vão causar grandes dificuldades e um sofrimento para a população”, avalia.

O Estado tem processos emergenciais abertos, com dispensa de licitação, para tentar comprar o insumo, mas vem esbarrando em dificuldades de mercado, uma vez que os fornecedores alegam falta de matéria-prima para produzir o contraste de iodado.

“De um modo geral, eles dizem que não tem o produto e por isso não conseguem vender. Estão partindo para ver se conseguem importação, mas é uma coisa para o médio prazo”, diz Ralfo Medeiros, diretor da Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat).

No último dia 13, o Ministério da Saúde, em conjunto com as sociedades médicas brasileiras, orientou a racionalização do uso de contraste iodado pelos estados até que o fornecimento do insumo seja normalizado. O MS informou que a escassez ocorre de forma global, devido à interrupção nas cadeias produtivas por consequência da pandemia. A China, principal fornecedor do contraste para a rede de saúde do Brasil, enfrenta fechamento de portos, como forma de conter o avanço da covid-19 no País.