A decisão recente de Eduardo Bolsonaro de se colocar como possível sucessor político do pai, caso Jair Bolsonaro permaneça inelegível, reacendeu o debate sobre os rumos da direita brasileira. A insistência do clã em manter a política familiar no centro do jogo político, no entanto, parece mais desgastar do que fortalecer o campo conservador no país.

Setores da direita, que buscam se consolidar como uma força política equilibrada, responsável e distante de personalismos excessivos, vêm demonstrando desconforto diante das atitudes dos Bolsonaro. A repetição de estratégias baseadas em bravatas, polarização e disputas internas tem causado fissuras dentro do campo político e alimentado críticas até de aliados históricos.

Na prática, a direita vive um dilema: precisa se afirmar como um bloco sadio, capaz de dialogar com diferentes setores da sociedade e propor soluções realistas para os desafios nacionais, mas encontra-se constantemente atravessada pelas decisões do bolsonarismo. Esse protagonismo, cada vez mais visto como obstáculo, gera constrangimento e, em alguns casos, “vergonha” entre aqueles que acreditam ser possível construir uma direita mais institucional e moderna.

O movimento de Eduardo Bolsonaro simboliza essa contradição. Se, por um lado, tenta preservar a força política herdada do pai, por outro reforça a imagem de que o bolsonarismo funciona como um projeto familiar e não como um movimento democrático mais amplo. Essa percepção tem afastado lideranças e dividido a base conservadora, que já discute alternativas para não ficar refém de uma política de culto à personalidade.

Enquanto isso, partidos e lideranças da direita liberal e conservadora tentam se articular para propor uma agenda mais racional e menos dependente de uma única família. O desafio é enorme: lidar com a herança do bolsonarismo sem perder o eleitorado mobilizado por ele, mas, ao mesmo tempo, oferecer à sociedade uma direita que não seja refém da insistência de um núcleo cada vez mais contestado.

No fim, o quadro que se desenha é o de uma direita que busca maturidade, mas encontra-se freada pela resistência de um bolsonarismo que, ao insistir em sobreviver a qualquer custo, pode estar, paradoxalmente, decretando a falência política da própria direita que afirma defender.