Favorito para presidir a Câmara Deputados diz que não tem responsabilidade de fiscalizar convênios e licitações firmados a partir de suas emendas

DESCOMBINADOS - Alves escalou um assessor para dar explicações, e sua situação piorou. “Foi o deputado quem mandou contratar”, disse o assessor
Henrique Eduardo Alves negou ter beneficiado assessor (José Cruz/ ABR)
Candidato favorito à Presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) disse nesta terça-feira que sabia do vínculo de seu ex-assessor Aluizio Dutra de Almeida com uma empresa contratada por prefeituras potiguares que foram contempladas com emendas propostas pelo deputado. Alves, no entanto, negou que tenha favorecido o assessor ou a empresa e disse que não tem responsabilidade de fiscalizar como são feitas as licitações e os convênios para a destinação dos recursos públicos.

"Ele não recebeu recursos públicos. A empresa da qual ele era cotista recebeu. Tanto que o mantive esse tempo todo sem realizar nenhuma ingerência nessa área", afirmou. O jornal Folha de S. Paulo revelou no domingo que Almeida é sócio da Onacci Engenharia e Comércio Ltda, empresa que recebeu dinheiro público de emendas parlamentares do próprio Alves e de projetos do governo federal. Na segunda-feira, após a denúncia, o assessor deixou o cargo. Alves disse ser vítima de "um jogo pré-eleitoral" e afirmou que seu assessor pediu a exoneração "por lealdade" .
É a segunda vez que o deputado é envolvido em suspeitas de favorecimento. No sábado,edição de VEJA revelou que o gabinete de Alves destinou parte da ajuda de custo recebida pela Câmara para uma empresa registrada em nome de uma laranja ligada a um ex-assessor do PMDB, o partido do deputado. Na segunda-feira, a assessoria do deputado afirmou que ele determinou uma "apuração rigorosa da existência de possíveis irregularidades".
Sobre as emendas, o deputado disse que a fiscalização do destino dos recursos aprovados é atribuição do Tribunal de Contas da União e da Controladoria-Geral da União. "Eu sou um lutador árduo por emendas, por convênios para o município que é pobre, para o estado que é pequeno, do Nordeste brasileiro", disse, referindo-se ao Rio Grande do Norte e também a prefeituras do estado. "Esse é o trabalho que eu faço. A partir daí, a partir da hora que isso é obtido, quem cuida são os gestores públicos, órgãos de fiscalização", completou.
O deputado disse que Almeida, que foi seu assessor nos últimos 13 anos, é apenas cotista da empresa Bonacci Engenharia e Comércio Ltda. Ele teria se afastado da gestão da empresa, ao ter sido aprovado em um concurso público em 1986 - cumprindo exigência legal para assumir o cargo. "Em 1986, ele se desligou da empresa e passou a manter apenas cotas que são seu patrimônio, da sua família. Ele continuou, mas sem nenhuma gerência executiva na empresa desde 1986", disse o deputado.
"Quem tem 42 anos de parlamento, 11 mandatos, o que for para ser esclarecido, será. O que for para ser dito, será. O que for para ser corrigido, será. Só que, neste caso, está sendo claramente dito qual é o meu papel, qual é a minha tarefa, que continuarei a fazer", afirmou o deputado.
O deputado federal esteve nesta terça reunido com o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), na primeira de uma série de viagens em busca de apoio político para sua candidatura à Câmara dos Deputados. No roteiro, estão mais 12 Estados. Ele também almoçou com parlamentares gaúchos de todas as legendas em busca de apoio político.
VEJA (Com Estadão Conteúdo)